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Opinião dada ao Jornal O Nacional de Passo Fundo em 03/02/2010

> Boa tarde, professor. Conforme conversamos pelo telefone, envio as
> perguntas referentes as manifestações populares no Egito e o papel da
> internet.
>
> - Ao mesmo tempo que as informações divulgadas na internet tem um
> prazo de validade, a repercussão do que cai na rede é imensurável.
> Como o senhor avalia isso?

Sem dúvida, os desdobramentos do alcance e da repercussão de notícias na
internet é fenomenal e imprevisível. Tal comportamento se dá em função
da estrutura da internet que dificulta, pra não dizer inviabiliza, o
controle do acesso. Embora tenhamos alguns exemplos de controle em
alguns países como na Coréia do Norte, Cuba e, mais recentemente, o
Egito, coibir o acesso à rede é complicado uma vez que a sua dinâmica
abre possibilidades de burlar todo e qualquer controle.

Esta fluidez e alcance de informação, caraterística da Internet, a meu
ver, tem assumido um papel determinante no processo de democratização da
informação, de exposição de situações de violência, de revindicação de
direitos, de exposição de problemas, sejam eles pessoais ou sociais, e
isto é extremamente positivo.


>
> - Pode surgir algo mais veloz e democrático do que a internet?

Veja que podemos classificar as tecnologias a partir de duas
perspectivas, da evolução e da revolução. De forma superficial, o
processo de evolução diz respeito a tecnologias que evoluíram a partir
de outras, entretanto, as tecnologias revolucionárias são as que
transformaram radicalmente e para sempre a dinâmica da sociedade, como é
o caso da Internet. Pois bem, me parece que dentre as tecnologias que
tem por objetivo disseminar informações e suportar a comunicação, a
Internet representa uma evolução, não pelo seu potencial de
disponibilizar informações, muito maior do que qualquer outra mídia, mas
exatamente pelo seu alcance e, principalmente, por ela se consolidar
como um espaço de comunicação multdirecional e absolutamente livre.

Para onde vamos? Pergunta difícil, mas me parece que vamos demorar para
presenciar outra tecnologia tão revolucionária quanto à internet.
Entretanto, sem dúvida temos muito a avançar na disponibilização de
acesso e na melhoria do serviço de conexão que dispomos, estes tem sido
os próximos da Internet.
>
> - Como o senhor avalia o papel da internet na política e na própria
> história da humanidade?


Bem, os meios de comunicação (a internet TAMBÉM é isso) sempre tiveram
um papel fundamental nos rumos políticos da humanidade. Entretanto
todos, com exceção da Internet, tinham o filtro do jornalista, da
emissora de TV ou rádio, do jornal, etc. A grande diferença é que a
Internet possibilita que absolutamente qualquer pessoa possa servir de
emissor de informações, o que subverte a lógica da mídia de massa e
revoluciona os movimentos políticos no mundo. Não foi somente a campanha
do presidente dos EAU, Barak Obama que demonstrou isto, mas, mais
recentemente, a forma como os Egípcios utilizaram a internet para se
manifestar acerco do regime do ditador Hosni Mubarak.

>
> - Li um livro de Pierre Lévy – As tecnologias da Inteligência- O
> futuro do pensamento na era da informática que diz que a maneira como
> utilizamos o computador a internet, a informatica muda a forma de
> organizarmos/estruturamos as informações no nosso cérebro., o nosso
> pensamento. A questão da não linearidade, da memória, da rapidez... O
> senhor acredita que a internet está transformando a maneira de nos
> manifestarmos diante de situações na política, economia, vida
> social...
>

Veja que eu acredito que o ser humano sempre foi crítico, faz parte de
nossa constituição enquanto "seres humanos", sempre nos sensibilizamos
com situações, emitimos sempre que possível nossa opinião e nos
manifestamos quando achamos necessário e pertinente. Pois bem, o que
temos agora é um veículo de alcance global e interplanetário - uma vez q
a Nasa já possui conexão à internet com a lua, por exemplo - que é
aberto e liberto (de regras) de manifestação. Assim, sem dúvida a
internet está transformando nossa maneira de nos manifestarmos, não em
essência, mas em formato.

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