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Entervista dada ao Jornal O Nacional em 11/03/2011

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> como vc tá vendo a tecnologia usada nas instituiçoes de ensino hoje?

É claro que não se trata de uma generalização e que existem experiências educacionais extremamente inovadoras e que extraem das tecnologias seu potencial comunicacional. Entretanto, de forma geral o que se coloca é uma situação de impasse entre uma instituição que a séculos está baseada em uma dinâmica unidirecional de comunicação, o professor que fala e o aluno que escuta/copia/reproduz, a escola, e uma sociedade onde as palavras-chave são colaboração, interatividade, descoberta, experimentação, comunicação. Características fundamentais a processos de aprendizagem que deveriam ocorrer, não só, mas também, na escola.

Outra questão, importante diz respeito à forma como vemos esta relação das tecnologias com o ambiente escolar. O que está em jogo não é a "utilização" dos computadores ou da internet, mas a "apropriação" delas. São conceitos diferentes. Utilização remete ao utilitarismo, o manuseio mecânico e limitado. A apropriação considera a história, as demandas e as habilidades dos alunos ou do grupo escolar, tendo uma dinâmica mais plástica e aberta. Utilizar remete à seguir passos pré definidos, enquanto que apropriar remete à descobrir alternativas contextualizadas e significativas.

Inclusive, e este pode ser um papo para outro momento, as tecnologias vão, em breve, colocar abaixo este nosso modelo de ensino reproducionista. ;-)

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> Quais são mais utilizadas?

É difícil apontar quais são as tecnologias mais utilizadas, entretanto, é possível intuir que a internet tem se consolidado como uma das mais recorrentes. Mas veja que depois de vários momentos governamentais, e não só, no sentido de informatização e conexão de ambientes de ensino, como por exemplo o Projeto Um Computador por Aluno, Programa Nacional de Banda Larga e o Programa Nacional de Informática na Educação, o Proinfo, a questão do acesso passa a ocupar um papel coadjuvante neste processo e entra em campo a forma de utiização, ou a apropriação das tecnologias, que não tem a ver com que tecnologia se usa, mas em que contexto. De qualquer forma, é possível apontar que, ainda, os jogos educacionais, na web ou não, são os campeões de audiência em nossas escolas. Agora, se a pergunta fosse acerca da utilização fora da escola, aí a resposta seria muito mais animada e promissora, recheada de ambientes de autoria e de relacionamentos que podem suportar processos extremamente complexos de aprendizagem.

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> os professores estão sabendo usá-las de modo adequado? se não, como poderiam ser melhor aproveitadas?

Partindo da ideia de apropriação, é fundamental que se deixe claro que é difícil definir formas de utilização das tecnologias. Entretanto, existem linhas gerais que podem ser obervadas no sentido de criar espaços e experiências favoráveis à aprendizagem. E isto pode se dar quando se observa, reconhece e se lança mão em nossas propostas didáticas do potencial comunicacional e interativo destas tecnologias, potencializados quando se dá liberdade aos alunos de criar a partir deles. O que se vê geralmente é a proibição de tudo aquilo que dá esta dinâmica reticular às tecnologias e que poderia ser um elemento fundamental de aprendizagem, os espaços de comunicação. Não é raro observar que em laboratórios escolares os primeiro recursos que são vedados são exatamente os que tem a ver com comunicação e interação, como, por exemplo, MSN, FaceBook, Orkut, etc, etc.

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> sabemos que tem escolas que já usam a lousa digital..o que acha dessa oportunidade de uso, uma vez que é um aparelho que nem todas instituiçoes podem adquirir?

Eu penso que o que está e jogo não é a tecnologia, mas a forma como é utilizada. Se forem utilizadas em um contexto de educação verticalizada e baseada no repasse de informações, não consigo vislumbrar vantagens. Peso que as instituições já possuem no seu interior, e na verdade no seu exterior tb, uma tecnologia extremamente revolucionária e que acaba por impor mudanças profundas em suas estruturas e em sua função social: A Internet. Não desqualifico qualquer outra tecnologia uma vez que até mesmo o bom e velho (literalmente) vídeo-cassete pode ser um instrumento pedagógico excepcional, mas a internet possui características que a qualificam como revolução e não como simples evolução, e todas estas características recaem sobre seu potencial autoral, interativo e comunicação e isto é aprendizagem!

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> para os alunos, essa é uma forma de entrar no cotidiano e atrair a atenção, já que os aparelhos, atualmente, são usados no momento de lazer??

Não acredito que a tecnologia vá ser a salvação de antigos "problemas" escolares como falta de atenção, desmotivação, défcit de aprendizagem, etc, etc. Inclusive, quando o aluno se depara com uma possibilidade limitada de utilização imposta por regras e filtros dentro da escola de uma tecnologia que ele utiliza livremente e criativamente fora dela o efeito pode, e será,contrário. Penso que a dinâmica de utilização das tecnologias por parte dos alunos fora da escola, deveria ser incorporada ao cotidiano escolar.
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> Em Passo Fundo, como tem visto a utlização da informática nas escolas...

Passo Fundo sem dúvida é um exemplo diferenciado no que se refere à tecnologia. E falo isto em função do contato que temos com as escolas municipais. Embora tenhamos muito a avançar, o município investiu não somente na informatização das escolas, mas em formação de professores, ação fundamental para que se efetive qualquer mudança na escola.

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