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Apocalípticos e Integrados!

Adriano Canabarro Teixeira
Doutor em Informática Aplicada em Educação, pós-doutorado em Educação, professor e pesquisador do Curso de Ciência da Computação e no Programa de Pós-Graduação em Educação da UPF.


Estes termos foram propostos por Umberto Eco - em um livro com o mesmo nome - a fim de categorizar as posturas mais comuns assumidas pelas pessoas quando o assunto é tecnologia.  Para Eco, no grupo dos Apocalípticos estão todos aqueles que tratam a tecnologia como a destruidora de tudo o que é bom, belo e puro neste mundo. Já no grupo dos Integrados, estão todos aqueles que acreditam ser a tecnologia a solução para todas as mazelas humanas e sociais. Claro que entre estes dois extremos existem vários níveis intermediários de posicionamentos que amenizam a dicotomia apresentada por estas duas categorias. Mas cá entre nós: em quase 20 anos de estudo na área de informática educativa, tenho tido como parceiros de diálogo pessoas das mais variadas áreas, indo da filosofia à informática e passando pela pedagogia e sociologia - para citar somente quatro - e a grande maioria assume uma posição binária: contra ou a favor da tecnologia. Entretanto, para tratarmos adequadamente desta questão, chamemos para nosso diálogo um dos mais reconhecidos educadores do mundo: Paulo Freire. Para ele não devemos “Endeusar” ou “Diaboliza” a tecnologia - sábio Paulo Freire... É preciso relativizar o fenômeno tecnológico materializado em smartphones, tablets e computadores que invadem nossas casas, salas de aula, empresas para nos dar acesso a algo que não é visível, mas assim como o ar - indispensável para a sobrevivência - existe: a Internet. A rede mundial de computadores é a campeã de audiência quando se trata de refletir acerca de seus impactos e desdobramentos nas mais variadas áreas e setores da vida humana, em especial na educação. Entretanto, na linha de Freire, é preciso dar o tempo necessário para uma análise histórica e coerente baseada nos desdobramentos desta tecnologia na vida da pessoas. Se pensarmos bem, a grande maioria de nós que tem acesso à internet não o tem a mais de 10 anos. E veja que corro o risco de estar exagerando. Ou seja, estamos em nossa pré-adolescência digital! Enquanto isto - afinal não é prudente esperarmos para ver no que vai dar - uma das possibilidades de compreensão do fenômeno tecnológico é a exploração de suas bases. Teremos tempo? Creio que sim. Justifico a partir de dois argumentos: Em primeiro lugar não acredito que nos próximos 25 anos teremos uma outra tecnologia que revolucione a vida das pessoas, das empresas e das nações na mesma dimensão que a internet o fez. O que teremos certamente é a melhoria no serviço prestado e o desenvolvimento inimaginável dos recursos disponibilizados. Lembre-se, estamos na pré-adolescência da internet. Em segundo lugar o que está por trás desta tecnologia é uma lógica tão antiga quanto a humanidade: a lógica das redes sobre a qual já escrevi um pouco na coluna do mês passado. De qualquer forma, quero fechar a coluna deste mês com uma expressão nada acadêmica de Umberto Eco mas que aponta para a impossibilidade de desconsiderarmos a discussão: “Tecnologia é água morro abaixo”, assim.... Ah, você deve estar se perguntando a qual dos dois grupos me aproximo mais: Apocalíptico ou Integrado? Não preciso dizer não é? ;-)  


http://goo.gl/DqH08a [Somando de Outubro 2013]


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