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Sobre Educação e Cibercultura!

ENTREVISTA PARA A REVISTA DO CURSO DE PEDAGOGIA DO IESA, INTERFACES, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE.


Como você compreende as relações da infância com a tecnologia hoje?
Inicialmente aponto que todas as questões são complexas e que desejo nestas respostas, criar linhas incompletas de argumentação para a reflexão acerca das questões colocadas. A fim de que possamos de fato interagir e aprofundar os elementos apresentados aqui, disponibilizo este diálogo em http://goo.gl/NJ5ACQ .
Partindo do princípio de que a tecnologia sempre fez parte da vida dos seres humanos de uma forma ou de outra, penso que estas sempre tiveram importante papel na constituição dos indivíduos. De qualquer forma, é possível intuir que as diferentes tecnologias influenciam de diferentes formas as diferentes gerações. A tecnologia que temos agora, e que está nas mãos das crianças, tem um potencial de alagamento de mundo inédita em relação às tecnologias com que as crianças de outras gerações tiveram acesso. As características básicas das tecnologias digitais constituem-se no sentido de abrir portais de interação com o mundo como um todo, de forma direta e sem intermediários, o que, por um lado dá acesso a bens culturais que podem fazer toda a diferença em seu desenvolvimento, mas por outro, cria situações que são incompatíveis com o estágio cognitivo e psicológico no qual se encontre.





Na sua experiência, as escolas tem acolhido as tecnologias no trabalho com a infância?
Penso que a Escola, e também a Universidade, tenha se esforçado na apropriação dessas tecnologias, assim como seus professores. Entretanto observo que tal tentativa tem se pautado fortemente em uma utilização instrumental da tecnologia claramente alijada daquelas características principais que vem em seu bojo: comunicação, compartilhamento e autoria. Não intencionalmente, é certo, mas pela concepção desatualizada do que significa aprender, bem como, pelo desconhecimento do potencial das tecnologias digitais neste processo. Tal contexto acaba relegando o potencial das tecnologias a  meros instrumentos de repasse de informações quando são virtualmente poderosos espaços de aprendizagem.



Que exigências a escola tem, frente a esses novos desafios?
Na minha opinião a principal exigência é repensar o modelo de educação que a mais de 200 anos perpetuamos em nossas instituições de ensino, reconhecendo que é impossível prever o que nossos estudantes precisam. Portanto, pré-definir 12 anos de conhecimentos em uma grade curricular que registra poucas alterações neste período é, no mínimo incoerente. Feito isto, inevitavelmente acabaremos por reconhecer as tecnologias digitais, já em sua gênese, como instrumentos e espaços poderosos de constituição de uma nova educação, baseada não mais na apresentação de conteúdo, mas no desenvolvimento de habilidades e competências cognitivas que de fato sirvam a processos de aprendizagem dinâmico e imprevisível!



Quais são as novas exigências na formação docente na cibercultura?
Pergunta complexa - assim como as anteriores - a qual, sem dúvida, não desejo nem tenho competência para responder. Mas gostaria de levantar alguns elementos para reflexão conjunta. É preciso que o Professor e a Escola, reconheçam que a dinâmica que implementamos está baseada em uma situação de escassez, quando as crianças precisavam ir até a escola, em um momento e local específicos, para escutar o professor falar sobre algum assunto, seja ele qual for. Temos que criar mecanismos de formação que se orientem para um mundo de abundância, onde não é mais necessário ir até a escola para saber das coisas. Ou seja, deixar de trabalhar na lógica da memorização e auxiliarmos no desenvolvimento de habilidades de localização e valoração da informação, de trabalho em equipe, de resolução de problemas e de comunicação.


O projeto Escola de Hackers é uma proposta que se coloca no sentido de inserir a escola na cibercultura, compartilhe conosco o andamento e informações sobre este projeto.
Embora esteja em seu início, acredito que sim uma vez que o projeto Escola de Hackers não se orienta a utilizar as tecnologias para saber mais sobre um assunto proposto pelo professor, mas ao desenvolvimento de habilidades cognitivas que podem ter interessantes desdobramentos no desempenho dos alunos nas diferentes disciplinas. Já existem estudos nos Estados Unidos da América que demonstraram que alunos que programam computadores possuem desempenho 30% superior àqueles que não programam. Programar desenvolve o reciocínio-lógico, cria situações de resolução de problemas, demanda pensamento criativo, desenvolve habilidades de comunicação, de organização do pensamento, etc.
O Projeto é uma realização da Prefeitura Municipal de Passo Fundo (PMPF), organizado pela Secretaria de Educação (SME), com o apoio da Universidade de Passo Fundo (UPF), Faculdade Meridional (IMED) e o Instituto Federal Sul-Rio-grandense (IFSul). Têm pretensão de ser estendido às demais Escolas do Município no decorrer dos próximos anos.
Teve seu início em 2014, com a participação de vinte e uma escolas, distribuídas em equipes de no mínimo quinze e no máximo vinte alunos do Ensino Fundamental, totalizando 312 alunos. As equipes eram atendidas por monitores, alunos(as) das Instituições de Ensino Superior (IEs) envolvidas, os(as) quais desenvolveram oficinas semanais, no turno inverso do horário escolar dos alunos, no laboratório de informática das escolas, entre o período de maio à dezembro. As oficinas tiveram o acompanhamento da equipe organizadora do Projeto, a qual se reuniu semanalmente com os monitores, no período de fevereiro a dezembro, no Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão Digital (GEPID), da UPF.
O projeto foi organizado em quatro etapas: preliminar, execução, formatura e avaliação. A etapa preliminar consistiu na definição dos conteúdos de programação, elaboração de material didático pedagógico; contato com as escolas municipais; realização das inscrições; formação de monitores e formação dos Coordenadores do laboratório de Informática, das Escolas do participantes, organizadas pelo IFSul.
A etapa de execução se referiu à implementação das ações da Escola de Hackers. Dentre as ações desenvolvidas, destacam‐se a realização de oficinas semanais com duração de 2 horas, conduzidas pelos monitores, nos laboratórios de informática das escolas inscritas. Nessa etapa, utilizou-se o material elaborado na etapa preliminar. Estas ações foram acompanhadas por professores da UPF e da IMED e, em dezembro de 2014, realizou-se a formatura com a entrega de certificados aos participantes.
A fim de que se possa construir conhecimento da experiência, as atividades do projeto tem sido acompanhadas por mestrandos e doutorandos que realizam suas pesquisas no sentido de reconhecer os desdobramentos da experiência. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas em http://mutirao.upf.br/escoladehackers/.





ACESSO PARA A REVISTA:
revistapedagogia@cnecsan.edu.br

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